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Chat GPT na prática: O fim ou o começo?



A essa altura, todo mundo já ouviu falar do Chat GPT. É uma ferramenta de inteligência artificial, da Open AI, que promete responder qualquer pergunta, independente do assunto, por meio de uma janela de bate-papo.


É ainda gratuita e, na primeira vez que testei, foi mais ou menos. Pedi algumas coisas relacionadas à minha área, por exemplo, como conceituar Direito do Trabalho, e saiu muito bom. Em questão de segundos, sem erros de português, com as vírgulas nos seus devidos lugares, algo que já me cativa.


Porém, quando solicitei um parecer sobre supressão de horas extras, a ferramenta errou feio e eu não insisti. Só havia ouvido elogios e lido matérias dizendo que essa seria uma revolução no mercado de trabalho e na internet.


Almoçando recentemente em São Paulo com o meu amigo e cliente Luis de Mattos - meu também guru para assuntos empresariais, de tecnologia e, principalmente, para inutilidades - ele me convenceu a insistir no Chat GPT e me deu algumas orientações do como usá-lo, tal como criticar a resposta, dar mais detalhes, enfim, orientar a máquina como se eu estivesse conversando com um advogado iniciante ou um estagiário.


Voltei, então, na questão da supressão de horas extras e o parecer veio em menos de um minuto, melhor do que na primeira vez (talvez seja a máquina aprendendo), mas ainda sem mencionar a súmula 291 do TST, que trata do tema e que deve estar em qualquer opinião legal sobre a matéria.


Eu disse ao chat que era necessário incluir a Súmula e ao me responder (é um diálogo mesmo), ele reconheceu o erro, porém, por duas vezes, complementou o parecer transcrevendo o conteúdo de outras duas súmulas, como sendo a da Súmula 291. Já irritado (só eu, a máquina não se irrita, claro), resolvi ajudar e informar qual é o real conteúdo da Súmula.


Com a correção, o parecer foi feito novamente, de forma aceitável, embora sem detalhar como deve ser calculada a indenização do empregado nesse caso.


Em outro teste, pedi uma política interna para disciplinar o pagamento de horas extras e reembolso de despesas de empregados em viagens a trabalho. Na solicitação, estabeleci várias premissas, como se estivesse pedindo para alguém da minha equipe e, novamente, em menos de um minuto, um rascunho da política estava pronto, precisando apenas de alguns ajustes, que fomos incluindo - eu e a máquina, juntos. O que me impressionou na elaboração do parecer foi a inclusão de mais de um tópico, que eu não pedi, mas que fazia todo sentido.


Isso tudo me levou a pensar no futuro de todas as profissões e se os advogados não estariam no topo da lista para a substituição de pessoas por máquinas. Pensei também se o Chat GPT não estaria exercendo ilegalmente a profissão e qual será o correto uso da ferramenta, lembrando o que diz o Estatuto da Advocacia, logo em seu art. 1º:


São atividades privativas de advocacia:

I - a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais;

II - as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas.


Independente do exercício da profissão, a inteligência artificial certamente poupará tempo e afetará a vida de jovens profissionais, uma vez que as tarefas que normalmente são desempenhadas por eles, como uma primeira minuta de uma peça processual ou de um parecer, poderão ser feitas de forma muito mais rápida e sem necessidade de maiores treinamentos.


O ponto é antecipar o que a máquina poderá fazer sozinha e o que não conseguirá. Como exemplo, posso estar convencido de que a demissão por justa causa é o caminho técnico mais adequado, muito embora oriente, algumas vezes, a não aplicar, seja porque eu conheço o perfil do cliente ou do empregado em questão. Difícil a máquina ter esse nível de conhecimento íntimo das pessoas.


O Chat GPT me impressionou muito por ser a primeira vez que vejo a inteligência artificial em prática. Até então, somente havia usado soluções de automação, habilmente mascaradas de inteligência artificial.


É assustador o nível de desenvolvimento da tecnologia e a velocidade das mudanças provocadas pelo uso da inteligência artificial, mas estou convencido de que a máquina não substituirá pessoas, apenas aquelas que não fizerem uso da tecnologia. Para essas, o futuro não se mostra muito promissor.


crédito foto: Unsplash.com

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